quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

O meu amor






Quando meu amor chorou, pude notar que eram muito mais que lágrimas a cair e uma expressão triste na face. Aquele choro era o último ato de uma série de acontecimentos d'uma vida.

Era a mãe que não ouvia suas lamúrias, eram os parentes quem o cobravam em excesso, o emprego que não obtivera, o passado que remoia-se constantemente e todo um conjunto maior de acontecimentos.

Forte, todavia, costuma reger o universo de seu travesseiro. Dá para imaginar o quão estranho me foi presenciar olhos tão azuis espremerem-se sobre lábios já pequenos. Chorara a dor do mundo vazio e mesquinho que esquecera de parabenizá-lo por suas vitórias.

Era humano, meu amor; mas não fora anunciado aos ventos, nem notado em seu coração justo que enlargece mediante tantas provações. É, meu amor é alguém apaixonado - E apaixonante, se me permite o comentário. Digno dos mais belos palácios e merecedor dos mais esplêndidos vestidos e jóias. É uma pena que o mundo não note meu amor quando passa num ônibus lotado ou entre outros na praça.

É uma pena, mas ainda assim, nada impede o meu amor de passar.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Moldes






Preciso abrandar minh'alma e acalmar esse sentimento que, exasperado, enraizou-se em meu coração flamejante.
Preciso abrandar os moldes que me deram ao longo dos últimos sete anos, preciso porque só assim abro caminho para as chamas que inundam meu ser. Talvez me sufoque menos, cresça um tanto mais, me reinvente maior que o próprio vento; talvez sofra a perda, ou adquira valores que me são diferentes; é meu risco. Mas ainda preciso abrandar os limites que me impuseram, preciso afrouxar os laços, apegar-me aos abraços, e confiar nos olhares. Preciso porque assim serei mais eu - que, na busca por mim mesmo, reinvento-me a todo segundo.
E já posso abrandar minha pele, esquentar meus dias, afogar meus medos. Caminho com uma multidão de livres e desgarrados, pois, neste caminho, ninguém é tão grande ao ponto de se bastar.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

João, Ana ou Daiane Pessoa






Daí ela não soube ao certo se o teto girava ou era o chão quem reboleava aos seus pés. De fato, uma analogia correta seria dizer que de borocoxô não havia se quer a pontinha.

Era assim: quando só, buscava qualquer abraço mais sincero, qualquer olhar brando e mais singelo; quando acompanhada, era o dilema entre depositar tudo em outrem e o medo de apegar-se a algo fugaz que viria a acabá-la por frangalhos.

O mar da sexta-feira, para ser sincero, nenhum deles viu, mas as meias de Ana estavam encharcadas. Molhadas como seus olhos perante a pressão que sofreu.

E cortou-me o coração ver toda a cena.

Corto-me o coração quando a vejo serena.

No entanto há certa continuidade em tudo que ocorreu. Pois assim como em mim, nela havia beleza, sagacidade e esperança.

Tudo isso em Ana.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Saudosismo





Escrevo minhas tolices como um velho que, ao fumar seu cachimbo sentado à varanda de casa, divaga sobre lembranças e aspirações ainda fortes. Ao escrever, surge uma forte penúria momentânea que distrai a todos que se põem em rota de leitura; lá, tal leitura deixa de ser singela e opaca, torna-se promíscua e... Um tanto comprometedora no que diz respeito às andanças de meus dedos.

Sou o que é conveniente; nem asno, nem inteligente; sempre bem conveniente. E os senhores haverão de convir que as imagens se misturam por seguimentos de minhas palavras e, portanto, abomináveis são as distorções de realidade que cercam este velho andarilho das estepes. De tão deturpada, esta percepção apelativa chega a ser real de forma à amedrontar o próprio medo. Como em quadros surrealistas e impressionistas, como o redemoinho que engole a si próprio e é feliz!

Feliz como entendedor único de um pesar e alegrias. E assim, constante felicidade, não se via noutros dias.