quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Motivação I




Dera um tempo daquilo. Havia coisas mais importantes para serem feitas: regar as plantas do jardim, conversas a esperá-lo, erudição literária a ser obtida. Havia várias outras coisas mais importantes. E não era desculpa para mais um domingo calmo de sua vida.

Passara os dias falando sem parar; mas agora é momento de absorver. Cansado, procura ouvir, ler, se faz necessário viajar mais uma vez para retornar com as histórias do mundo lá fora.

Foi-se.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Rio



Rio da vida,
é minha forma discreta de fazer os dias melhores
Rio da vida;
e rir é meu santo remédio nos dias em que a chuva despenca céu abaixo
Rio da vida
pois aprendi que caso contrário, ela riria de mim
Rio da vida;
e, as vezes, gargalho alto com fatos e acontecimentos
Rio da vida,
porque outras vezes há um quê de tristeza fruto da falta de convencimento de minha alegria
Rio da vida
pelo simples fato de estar vivo

Rio da minha vida
Pois lá, as águas jamais permaneceriam paradas

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Na Hora Marcada...




Esse texto é continuação de a preparação.


- E este anel em suas mãos?
- Ah, este tem um significado bastante especial.
- Gostaria de conhecer a história, qualquer dia.
- Ele me lembra um grande mestre que conheci, certa vez.
- O modo como fala de mestres... Parece que quer deixar implícita alguma idéia profunda, algo... Medieval? Senti isso desde a primeira vez que falamo-nos.
- Ah, só porque uso expressões antigas? Não, aprendi esses vícios de linguagem com o antigo dono desse anel.
- Como gostaria de conhecê-lo, algum dia. Me fale deste homem.
- Estava dizendo que ele fora um grande mestre; mestre, pois me ensinou muito do que sei sobre a vida, as pessoas, as situações. Ele quem me ensinou a oratória, poder argumentativo, a educação, como agradar ou intimidar. Era um grande homem.
- Faz muito tempo de seu falecimento? - ela fraquejou um pouco após a pergunta, quase pular sozinha de sua boca. Erh, não quis ser indiscreta, só que... O modo como você falou. Ah, eu sou uma idiota, mesmo.
- Não tem problema, Michele! E não, ele não morreu. Só deixou de ser ele mesmo há algum tempo. O que é mal.
- Alguma possibilidade de eu conhecê-lo?
- Provavelmente nunca. Mas você já deve tê-lo contemplado algum dia de sua vida.
- Como sabe com tanta clareza? Paris ainda é uma grande cidade.
- Na verdade, esse velho é mais famoso que qualquer homem, muitos já o conheceram, a diferença é que a maioria não lhe deu importância, outros criaram laços de amizade fortíssimos.
- Ai. Já estás novamente falando como um velho sábio da idade média. Esse "dono do anel" é, por acaso algum homem vivente exatamente? Ou estou certa e você só fala em sentido figurado para criar suspense?
- Não é só para criar suspense, nem se faça de boba. Nós dois sabemos o porquê de estarmos aqui.

Ela havia congelado com suas últimas palavras. "Então era verdade, ele sabia tudo, também a havia notado".
- Rovert, se você sabe quem eu sou e quem somos, um para o outro; deve saber dos riscos desse nosso encontro.
- Conheço todos eles. Mas não posso evitar. Tenho adiado nosso encontro em décadas; já não me importa que eles nos peguem.
- Mas seríamos mortos.
- Deixei de lutar contra isso. Que seja morto se preciso; mas há muito que preciso dizer-te, muita coisa que só você pode compreender.
- Eu entendo, meu amor - "meu amor"? Onde estou com a cabeça, não sei nada sobre esse homem; tá, a quem quero enganar? Sei tudo que preciso saber sobre ele, e sei que o mundo pode acabar agora, toda minha existência já fora justificada hoje.
- Então, o que me diz?
- O que te digo? Não faço a menor idéia. O que espera ouvir? Que eu vá contigo?
- Seria um bom começo.
- Eu tenho filhos, você sabia?
- Não me importo, traga-os também.
- Não tomarei medidas precipitadas com você. Deixe seu telefone, e prometo ligar quando digerir isso tudo.
- Então será assim?
- Assim como?
- Pegue meu telefone, moro aqui próximo; pode me ligar a qualquer horário.
- Ok. Acho melhor eu ir para casa, agora.
- Mas nem vai terminar seu chá?

Michele, que esquecera completamente o seu chá - agora gelado - decide terminá-lo em companhia de Rovert. Mal sabia ela, o que a aguardava aquela noite.

continua...

terça-feira, 21 de setembro de 2010

A Preparação



Para entender o texto a seguir, leia primeiro a sacerdotisa da noite

(continuação...)
Era sua vez de sentir-se acuado.

- Já são quase 17h e ainda não sei qual roupa usarei, preciso achar algo bom rápidamente - Pensava, Rovert, com seus botões, enquanto o velho metrô fazia seu caminho voltando do trabalho.

Rovert era escritor de um jornal pequeno. Não que não possuísse capacidade para redigir alguma coluna de grande jornal, trabalhava lá pois era o seu lugar, a sua forma de encontrar a ponte entre o visível e o invisível; gostava de poder fazer seus horários, escrever livremente sobre qualquer assunto, gostava do café que Martha - sua secretária - preparava. Lá, ele poderia escolher trabalhar numa padaria aquele dia, se preferisse - E foi assim que conheceu Michele.

- Ah, Michele, se ela me desse algum tempo a mais em sua companhia.

O Metrô para de súbito.

- É minha estação, preciso correr.

Chega em casa, toma banho o mais rápido que pode, veste-se de forma elegante.
Precisa impressioná-la; e nem por ser uma mulher chamativa, mas por ser... (ela?).

- Será que ela também conhece os mistérios da tradição do sol? Será que ela percebeu o ponto brilhante sobre meu ombro? Tanto que tentei disfarçar - ao ver aquela moça pela primeira vez mais cedo, Rovet havia notado um ponto brilhante sobre seu ombro esquerdo, e percebeu de supapo: É ela. Preciso agir com cautela, ou posso acabar espantando a garota.

17:45 e ele já se encontrava no Thé Glacé, à espera de sua companhia. Ancioso, não parava de brincar com seus sapatos.

(continua...)

domingo, 19 de setembro de 2010

A Sacerdotisa da Noite



Partia o ar com a destreza de uma sarcedotisa que deixa o mistério expresso nas suas proclamações de futuro.
Ela, quem não se deve nomear, estava mais serena e plena que de costume - pobre falsa aparência. Havia de ter cautela nos movimentos - é perigoso mostrar-me em primeira instância.
Aliás, o dito "ele" era também sacerdote de celebração, celebrava o sol e todo o conhecimento nato e alheio; dominava o seu universo com maestria.
Como imaginar tamanha coincidência? Poderosa conquistadora apaixonando-se pela vivência de um velho.

Eu posso ter qualquer homem aos meus pés - pensou consigo ao observar o verde dos olhos adiante. Não preciso me preocupar com subjugamentos de um cara qualquer que conheci hoje.

E realmente não precisava, mas queria. Havia de esconder-se porque se sentia nua diante de olhos tão precisos, cortantes.
Sentia-se amedrontada, mas gostava ao mesmo passo. Estava lá.

Aproveitou o momento para acender um cigarro.
- Fuma comigo?
- Não fumo, obrigado!
- Mas a companhia é aceita?
- Jamais deixaria uma Lady sozinha.

"Uma Lady"? Ele me chamou de Lady? Que cavalheirismo! Mas será que ele sabe? Será que percebe meu segredo, será que me lê facilmente?

- Posso ler sua mão? - Perguntou Rovet à jovem moça.
- V... Você lê mãos? - Ele sabe, só pode ter sacado.
- Não, na realidade sei apenas umas coisas, mas gostaria muito.
- Hum, acho que vou passar. Nem te conheço direito. - Ela não cairia nessa armadilha, era bastante esperta para saber que as mãos de uma mulher dizem muito mais que o tipo de trabalho que ela exerce.
- Mas gostaria de conhecer, pois?
- Pode ser. Acompanha-me no chá das 18h?
- Marcado.

(continua...)

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

En Mor.gana




- Me disse que entendeu tudo que aconteceu.
- E você, entendeu o que estava por acontecer?
- Pra ser sincero, foi muito efêmero. E eu sempre soube disso tudo.
- Você não se surpreendeu? - cara de espanto.
- Não, irmão. O que aconteceu foi um choque de várias coisas; de fases, momentos, idéias. Mas se quer saber, aprendi um bocado nesse pouco tempo!
- Ou, que bom! Mas o que você acha que acontecerá agora?
- Agora? Voltarei à minha perdição de sempre, né? Aliás, tenho muita coisa pra estudar nos próximos anos, não é uma boa fase para programar coisas.
- Nós não valemos nada, mesmo!
- Não, não valemos.
- Já conversou com Morgana, sobre isso?
- Morgana? Se ela sonhar, eu morro!
- Realmente!
- E completo: Viver é a droga mais entorpecente e saborosa de todas!
- Nas palavras de Kurt Cobain?
- Nas palavras de Kurt Cobain!

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Também



Eu também vejo, também sei!
E é mais fácil quando os outros falam: "faça isso", "tente aquilo".
Mas magoa tentar, machuca um bocado.

Mais fácil seria uma objetividade estável, sabe? Aquela segurança forte (ainda que falsa) rebatedora dos medos pessoais e indagações desnecessárias.

- Essas palavras estão muito vagas, realmente.
- Tentou especificá-las?
- Não sei... A motivação em si é bastante vaga.
- Compreendo...

Mas, tudo pode ser bastante sólido, firme, menos abstrato. Depende das conversas paralelas, dos olhares sinceros, dos sorrisos e lágrimas reais. Não me cabe de todo, há algo a mais.
Não controlo há tempos, nem tento. Deixar acontecer, é uma forma bastante sincera de dizer "te gosto simplesmente, mesmo sem saber o que há em teu passado ou tuas espectativas de futuro; mas quero ir fundo nisso, descobrir onde vai dar todo esse misto de alegria, torpor, êxtase e curiosidade. Eu quero ver onde esta estrada amarela leva".

Quero sempre o resgate, o desgaste, a inocência, a veemência, o perigo... E a vista da roda gigante criada alguns dias atrás.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Tão sério quanto as melhores brincadeiras



Querer brincar é algo cativante, inspirador.
Queremos brincar, e evitamos a seriedade para fazer charme, suspense.
Quero brincar, porque é legal ver sorrisos com bochechas vermelhas e olhinhos apertados.

E eu quero brincar, quero conversar, quero olhar nos olhos. Eu quero, e tu queres?

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Crises


Disse não possuir dinheiro no bolso!
Havia dito um paiol de bobagens a fim de arrancar sorrisos das crianças ali presentes.

"Fazer-se menor para ser grande!"

E fazia com certa habilidade, era parte de sua personalidade, hoje. Curtia muito tudo aquilo, até ouvir:
- Tio, se eu desobedecer a tia da escola, a bruxa feia da floresta vem me pegar?
Respondeu, amargurado, que sim! Preferia afirmar que não havia bruxa alguma na floresta, que é na floresta onde se encontra tudo de mais legal. Mas era melhor não desmentir seus pais:
- Então, se você não for comportada na escola, a bruxa vem puxar seu cabelo à noite.


Enquanto isso, ao seu lado, uma garota ria-se de toda a cena.
- Você vai passar a noite inteira conversando com a menina e vai acabar saindo sem descobrir meu segredo.
- Me dê uma pista, então.
- A pista já é a resposta, você precisa descobrir, tem mais graça assim.

E foi toda a noite assim. Ritmada, ritmando, ri t amando. Foi engraçado, foi fantástico; mesmo deixando no chinelo, pondo no bolso, foi legal.

E grita "me lambe" para todos que querem curtir com sua cara.
Tá, te lambo; mas não acostume-se, também gosto de ser lambido!
(risos inconstantes).

Comentário do autor: estou muito bem, aliás, bem demais! Todo o torpor é proveniente de apenas uma crise. Ah, e que crise.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Duv(et)ido



Escrevo das esquinas donde estive nos últimos dias. Aqui, onde os sonhos tornam-se realidade em caixas de papelão que sonam baterias, cabos e pedaços de fiação antiga são inspiradores da mente artística, que somados aos pedaços de madeira velha, tornam-se guitarras, alaúdes, contra baixos.

- Ali, ali! Há um violonista logo ali atrás, podes ver?
- Sim, ele está lá, que lindo som que tira de seu instrumento.
- Na próxima rua mora o percussionista, esse cara é fantástico com sua moringa!
- E eles já pensaram em formar alguma banda? Digo, reunir todos esses elementos em uníssono? Creio que seria fantástico!
-Aguarde, todos os dias às 17h há ensaio deles, você ouvirá!

Às 17h, pontualmente, começa à desfilar pela rua arborizada do centro da cidade, uma banda um tanto peculiar. Tocavam sucessos dos corações, e porque não dizer que tocavam o coração de cada um que ouvia? Eram eles! Eles e só, não faltou complemento, nem o "quê" a mais. Eram jovens e isso surpreendia.
E DUV(ET)ido que alguém da platéia tenha saído sem repetir em sua mente "Now hang me up to dry, you wrung me out too, too, too many times"

Os sorrisos enlargeciam-se ao ouvir a bela e tímida voz de Fabiana dissolver-se no mar de aplausos.

-Obrigada!

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Às frases nunca ditas




(...) e temos um pouco de tristeza interior constante. Uma sensação de que tudo vai acabar no instante seguinte, de que a fugacidade da vida é não nos permitir viver para sempre assim, próximos ainda que distantes, tristes ao mesmo passo que alegres.

Todos temos alguma tristeza interior, alguma pendência imediata, alguma frase que gostaríamos de dizer no momento chave; mas não dissemos, não resolvemos... E essas coisas fazem a vida pesar muito sobre nossos peitos.

Aos momentos não vividos e às frases nunca ditas!

Quando os cigarros se acendem, os tragos fazem a dor um pouco mais suportável; a tontura do álcool faz com que o mundo pare de despontar sentimentos que controlam Zahirs interiores, nossos medos, nossas angústias; até a ressaca, quando má, serve para esquecer o que ficou pendente, o que ficou perdido.

Quando me contaram que não é possível ter tudo, eu duvidei piamente. Hoje vejo que realmente não posso ter tudo; mas tenho amigos sinceros, pessoas que, como eu, também sofrem por seus valores pessoais; valores esses, que muito estimo. Não, não posso ter tudo, mas posso dividir minhas experiências com outros como eu, e participando de suas vidas acabo tendo a melhor parte de todas...



...o recheio do bolinho.