sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Melliflue pioggia






A chuva cai para todos... E faz frio na cidade do sol eterno.

Veja, estamos bem no meio de um dia de primavera e o céu fechado, fechado...

É... Hoje São Pedro resolveu dar as caras por Maceió; e o danado ainda trouxe uns amiguinhos consigo. Veio acompanhado de Steve Lee, Eric Clapton e todo um grupo de bons companheiros.

Engraçado que a minha "sonora" está bem preguiçosa, hoje; clamando por colo, carinho e um afago em meus cachos louros. A volta das lembranças de um mundo que não lembro ter vivido. Revivo os momentos de tua onipresença, os "estares onde tudo é errado", as baterias d'uma escola de samba que vibra em meu peito.

Meu peito! Ele não anda apertado, sabia? Anda, sim, pequeno para tanta algazarra que um coração faz lá dentro; pequeno para teu grito forte ou teu beijo tímido; ando pequeno para esse sentimento que tem crescido.

E eu ando! Ando todas as ruas que posso e por todas as trilhas que consigo. São tentativas de ouvir teu nome, uma vez mais. Invento saber cozinhar, aniversários, festas; são minhas desculpas esfarrapadas para ouvir meus cinco minutos de teu falar brando.

É um modo de te gostar sem segredos nem pudores.

E até entendo que há um mundo de pessoas me odiando por te gostar. Há um verdadeiro exército tentando transpor-nos.

Tu, dona de formidáveis cabelos ondulados e melíflua boca donde os colibris me invejam; tu, quem me tirou o fôlego e a segurança desde o primeiro instante; quem magicamente me teatriza perfeição de querubim, já desgarrado; tu... Que, em mim, caracteriza fitas multicoloridas nesse céu cinza. Conheces bem o perfume da flor e podes me achar a frente dos arco-íris, se antepondo à outras visões tolas.


Tu...

Porque não poderia ser outra.

domingo, 24 de outubro de 2010

Bailarina de um soldado qualquer




Ao ler historinhas infantis, acabo por me deparar com aquela seqüência absurda de personagens completos e elementos em comum.
Sempre há aquele herói atrapalhado que busca espetar moinhos de vento ou descobrir os fatos por trás de mentiras; há, também, aquela donzela platônica, que passa a ser aristotélica com o desfecho da história; algum animal com feições humanas, que, às vezes é voz da consciência do protagonista, outras, é o sarcasmo interior materializado. Há certo padrão nas histórias, de forma a deixá-las completas, dotadas de um sentido ascendente, esperançoso.

Há, ainda, aquelas que fogem do padrão buscando a realidade; exploradoras das doenças psíquicas, dos amores verdadeiros, das falhas sociais. Eu, particularmente, possuo certo gosto por esse segundo tipo de histórias; nelas, os dragões, acabam por matar inocentes, as princesas nem sempre terminam com os príncipes e as bailarinas se cansam de dançar na mesma casa em que vive o soldadinho de chumbo.

Não é rancor ou gosto pelo negativo - ao revés, sou, talvez, o mais positivista possível. Mas nessas histórias sinto a proximidade entre os contos de fadas e a realidade. Não que não haja um pote de ouro no fim do arco-íris, ou que os trevos de quatro folhas sejam extintos; é que a vida é mais bela quando a realidade é bem vista. Se vista num conto de fadas!

E Macabea disse que não possuir luxo era conseqüência de sua dignidade, quando questionada sobre suas maiores feitorias do domingo.

Acordo cedo nos fins de semana porque gosto de passar mais tempo sem fazer nada, e por muito tempo achei que meus "nadas" eram ausência de sapatos dançantes e varinhas encantadas. Criei minha própria dança, pois; e hoje, posso acreditar que até consegui um par!

Não, minha música não para mais. E ainda que o relógio bata meia noite, prometo estar pronto para apanhar o sapatinho de cristal que ficará ao chão.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Aos contrários



E quando as orelhas compridas justificarem os momentos inquietantes de prosa, lembrar-me-ei que um dia fui o primeiro. De certo que não fui único e nem de longe seria o melhor, mas fui o primeiro, e como primeiro, fui referência a todos os seguintes.

Mostrei um caminho que conhecia há pouco - bom saber que pude mostrar algo de bom. E, quem sabe, essas são minhas justificativas de existência: mostrar, inspirar, ser luz. Concordo que fui e sou muito criticado por características que me diminuem, mas é sabido que grande parte das críticas advém do medo alheio em ferir-se.

Crítica por medo de ser criticado; acusação por medo de ser acusado. E o mundo acaba sendo mais tragável...

Faço-me! E, ao me fazer, sou mais digno de minhas orelhas alongadas.

Amém.

sábado, 16 de outubro de 2010

Um turbilhão de informações pertinentes


Para entender o texto abaixo, veja: Na hora marcada



(No teatro de Saint German)

- Está gostando da peça?
- Ah, é ótima, bem que Laura me contou.
- Laura, Laura, preciso conhecer a dita Laura.
- Lógico que você vai conhecê-la, Rovert. Aliás, ela mandou um convite para seu chá de bebê e lá dizia "Para Michele e família".
- Você vai levar os meninos, então?
- Erh, bem... Estive pensando em levar outrem.
- Vai com Marcos, seu irmão?
- Na realidade, eu pensei em te convidar para ir comigo - hesitou por um momento. Assim, eu até entendo se você tiver alguma ocupação para esse fim de semana.
- Não, não tenho - falou tão rápido que mal pensou as palavras que saíram de sua boca.
- Na realidade, não precisa sentir-se pressionado. Eu só pensei que poderia apresentar meu namorado às minhas amigas.
- Namorado? - E havia algum tempo que Rovert não se embebia em tamanho êxtase.


Há um mês, num lugar chamado "Thé Glacé"...

Ela finalmente se foi. Então, qual será a impressão que guardou sobre mim? Achou-me muito direto, rude, simpático?
Sim, me importo com sua opinião. Importo-me demais!
Aos leitores, deixo claro que eu já conhecia aquela mulher, conhecia de algum modo que não sei explicar. É certo que nunca vira aqueles lindos olhos castanhos em minha frente, tão pouco conhecia aquelas mãos delicadas como algodão úmido; mas a conhecia. Era íntima minha e de minhas noites solitárias, sabia meus defeitos porque me enxergava com facilidade. Capaz de desmentir qualquer opinião ao meu respeito, ela me tinha em seu controle.

Tomara minha vida há muito atrás, em alguma outra vida de nosso passado.

Algumas semanas depois estávamos saindo todos os dias, eram passeios pelo parque, fins de tarde na praia, cinema após o trabalho, era divina, a companhia...

Queres saber se fizemos amor? Sim, fizemos amor! e foi de uma forma tão pura e espontânea que só pude confirmar minhas certezas.

Se a amo? Sim, a amo! E já amava em meus sonhos, aquele ser angelical advindo da maior inspiração divina.

E gritar o amor à dona de meus pensamentos nunca foi tão gratificante.

(continua...)

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Atrizes




Há uma vontade louca que me consome por inteiro, me joga de escanteio, me submete aos sentimentos mais frágeis.
Há uma vontade. E essa minha vontade começa quando ligo a TV em busca de algum programa que me distraia - é apenas o começo de toda a sinestesia noturna da minha segunda-feira. Atravesso os canais onde atrizes interpretam teus papéis. E tu, dona de meus olhos, sequer sonhas com a intensidade abrupta que me toma de assalto em pleno início de semana.

Lembro-me! E lembrarei por muito tempo; essa intensidade em que ritma minha escola de samba, essa franqueza em questionar e ser questionado, o frio na barriga ao imaginar o confronto com as cento e cinquenta e sete partes de um todo, meu dominador. Sim, me domina em laços apertados, me faz boneco sem motivo nem aviso prévio.

Eu, dentro de teus jogos, gosto de imaginar teus afazeres, de esperar teus textos em meu telefone; gosto da canela, do manjericão, dos vinhos e do embalo desse meu muzak italiano que toca aqui.

Retocam as atrizes em minha tela e eu fico a imaginar se um de teus segredos é ser protagonista de todas as novelas.

Bem atriz...

...a melhor de todas elas!

domingo, 10 de outubro de 2010

Cores





Por vezes me pego trancando momentos, imagens, palavras... Guardo-os porque é um direito meu, irrefurtável.
Como conversas inacabadas, onde as perguntas sem resposta adicionam o tema da prosa-do-dia-seguinte; ou olhares incompletos, onde não se determina quem começa ou o que demonstram, os olhos; há ainda, os toques graciosos de mãos onde queima o tremor de dedos tão delicados.

Eram cor-de-rosa, as unhas. Lindas como as flores de ipê na primavera.
O sorriso era branco como a graciosidade das margaridas e papoulas de meu jardim.
Eram negros, os cabelos penteados - e repenteados à cada instante pelas hábeis mãos delicadas.
E havia mais umas mil cores difetentes compreendidas entre seus cento e cinquenta e sete centímetros, distribuídos em proporções parnasianas.

E ainda entre cores pulsantes e vibrantes, me chamava atenção, o brilho verde-rósea que emanava de suas janelas-da-alma. Brilho intenso que me aguça a curiosidade e desperta, ainda mais, o interesse.

Proclamo-lhes, com enorme orgulho, os versos que me motivaram dada descrição:

"Sou, então, mariposa velha
Já não voo, digo nada
Se aqui paro, não desespero
Espero, ancioso, o passar de minha amada"

Ainda havia alguma canela no sabor de minha carne, hoje - lembrança dos tempeiros que embalam encontros às escondidas!

(e ainda há tanto que falar...)

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

- Ho di lavorare, solamente




Sinto falta do meu corre-corre rotineiro, do despertador que tocava às 5h da manhã anunciando o vai e vem dos carros na avenida, lá embaixo. Essa falta me faz querer mudar, luto, pois, com todas as minhas forças, contra essa inutilidade constante que retém todo o meu tempo.

Apegado ao primeiro livro que aparece em meus planos de futuro, desço pela janela do prédio em busca da centralização sentimental aguçada. Mas ainda me falta...

...O enobrecimento merecido, o dinheiro suado, o trabalho gratificante.

Choro. Afinal um homem também chora. E as lágrimas que descem, fazem alusão a um sonho próximo de alcançar. Aproximo-me - pudera, larguei tudo pela expectativa de me preencher. Hoje me pergunto como seria se os deuses me fossem mais favoráveis.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

O Amor às coisas simples



Eu escrevo o amor e todas as coisas que vêm junto. Amor às situações, às pessoas, aos momentos. Sou assim, amante das relações interpessoais e do miscigenado eu interior, tão comum aos que o valorizam.

Prefiro o café da manhã servido na cama, a palavra sincera dita enfrentando olhos dissimulados; prefiro o doce dos cabelos. E entre os cabelos... Fico com os despenteados.

Sou assim, amante da vida e carente de amor. Mas o vejo em qualquer canto de parede que encontro; amor ao próximo, à arte, à vida... Mas nada se compara ao amor à mulher amada! Essa sim!

sábado, 2 de outubro de 2010

Flower of Scotland




Essa noite eu não consegui dormir.

Precisava fazer uma ligação, sabe? Dizer que tem sido ótimo tudo isso. O trocar de olhares, cruzar das mãos, o estender o braço à Lady desacompanhada, tudo num misto lúdico de honra, afeto, curiosidade, mistério. Sim, o teu mistério acolhedor que nunca me impediu ou bloqueou uma aproximação - mesmo eu afirmando que o houve. Não houve medo, afinal, nem hesitação; é só que você me faz gostar de brincar. Brincar de sedução, de confundir olhares, de fazer poses. É bom estar em sua companhia, de coração.

E há esse... Esse sentimento forte que começa a revelar-se de pico. Como quando tentei tomar tua mão direita para falar minhas bobagens, ou quando me faço ébrio para tentar penetrar em sua lucidez com gosto de Mentos e ananás. Gosto de qualquer brinquedo velho que me permita algumas horas de torpor exagerado, de um cabelo preto cumprido e jogado de lado - ou não, tanto faz -, gosto de teus cabelos, ainda que nunca os tenha tocado.

E de todos os gostos, de todas as lembranças, de todo o mistério; há algo especial que tanto almejo. E se ainda não te disse em palavras, digo que esse meu profundo desejo é um tanto mais profundo. Comprar-te-ia se estivesses à venda! E por ti, pagaria o mundo.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Mãos



Tá, eu assumo que sou muito influenciável; porém, em minha defesa, digo que apenas sou influenciado quando me permito.
Sim, eu tenho me permitido, em todas as circunstâncias.
Contigo? Bem, contigo tem sido algo misto, se posso definir assim. Uma vontade de largar tudo e correr para te encontrar. Vontade essa, que lado a lado de tua foto, me tira da cama todos os dias, faz andar por novas ruas antigas, ver e ouvir pessoas alheias, conversar com um e com outro; tudo na ância de ouvir notícias de um mundo teu.
Não, eu não te procuro em outros olhares ou toques. Busco teu nome nos lábios de qualquer um que demonstre conhecê-la, busco incansavelmente.
E vives tua vida de exímia forma, transitando entre as ciências mentais e minha calmaria boba, que me sinto incapaz de te invejar. Desejo-te, pois, em corpo e alma, num misto de prazer e harmonia.

Tudo isso vindo de um olhar tímido e das mãos ocultas.