domingo, 24 de outubro de 2010

Bailarina de um soldado qualquer




Ao ler historinhas infantis, acabo por me deparar com aquela seqüência absurda de personagens completos e elementos em comum.
Sempre há aquele herói atrapalhado que busca espetar moinhos de vento ou descobrir os fatos por trás de mentiras; há, também, aquela donzela platônica, que passa a ser aristotélica com o desfecho da história; algum animal com feições humanas, que, às vezes é voz da consciência do protagonista, outras, é o sarcasmo interior materializado. Há certo padrão nas histórias, de forma a deixá-las completas, dotadas de um sentido ascendente, esperançoso.

Há, ainda, aquelas que fogem do padrão buscando a realidade; exploradoras das doenças psíquicas, dos amores verdadeiros, das falhas sociais. Eu, particularmente, possuo certo gosto por esse segundo tipo de histórias; nelas, os dragões, acabam por matar inocentes, as princesas nem sempre terminam com os príncipes e as bailarinas se cansam de dançar na mesma casa em que vive o soldadinho de chumbo.

Não é rancor ou gosto pelo negativo - ao revés, sou, talvez, o mais positivista possível. Mas nessas histórias sinto a proximidade entre os contos de fadas e a realidade. Não que não haja um pote de ouro no fim do arco-íris, ou que os trevos de quatro folhas sejam extintos; é que a vida é mais bela quando a realidade é bem vista. Se vista num conto de fadas!

E Macabea disse que não possuir luxo era conseqüência de sua dignidade, quando questionada sobre suas maiores feitorias do domingo.

Acordo cedo nos fins de semana porque gosto de passar mais tempo sem fazer nada, e por muito tempo achei que meus "nadas" eram ausência de sapatos dançantes e varinhas encantadas. Criei minha própria dança, pois; e hoje, posso acreditar que até consegui um par!

Não, minha música não para mais. E ainda que o relógio bata meia noite, prometo estar pronto para apanhar o sapatinho de cristal que ficará ao chão.

10 comentários:

  1. No Sonora, uma música de Rodrigo Leão, nomeada "Gente diferente".

    Exegese à vontade!

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  2. Sobre o post passado (comentário de Vanessa);
    a suepresa é porque achei que não lias aqui há algum tempo, já, de verdade. eu sei mais ou menos quem lê pelos recados (dá para brincar com as opniões, dos leitores, e os recados engrandecem um tanto, o sentido dos textos) que comentam, como não vejo recados teus há alguns meses, achei que não lias, aqui. Mas fico bem feliz em saber que sempre lê meus textinhos tolos. E acho muita bondade sua em compará-los com manifestações culturais, mas bom saber que vê meus escritos com bons olhos. :D

    Você anida deixa? Para mim, você sempre será Nêssa, nem Dai, nem nada, será Nêssa e pronto! O "Vanessa Daiany" foi p/ dar quela ênfase :D

    Minhas saudações à todos!

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  3. ao ler esse texto lembrei do dia em que minha professora desprezou minha redação, só pq ñ tinha um final feliz :/
    eu questionei, mas ela ñ aceitou. para ela, contos só poderiam ter finais felizes. :/


    muito bom o texto, como sempre.
    esse, fez-me lembrar dessa história... toda vez que eu lembro, fico revoltada... hsuahsuausuah


    beeijo.

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  4. Esse texto me pareceu um pouco triste, ou é apenas impressão minha? sei lá...

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  5. Não sabia que gostavas da literatura de Lispector.Se bem que em seus textos a introspectividade esta sempre presente.
    Bom texto!
    Saudades Rique lindo
    bj

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  6. Belo texto Henrique!
    Te sigo! Espero que lembres de mim! Abraço forte e saudoso!

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  7. Lispector? Comecei a lê-la, ainda é cedo para afirmar que eu aprecio; mas ela traz uns elementos legais (ao menos, na hora da estrela).

    O texto meio triste? Tá, de fato, a inspiração é um tanto tristonha, mas o texto, em sim é meio reflexivo.

    Danilo, cara... poxa, fazem vários anos que não te vejo, grande amigo! Lógico que lembro de ti! poxa, um elogio vindo de um jornalista tão bom? caraca, será que posso me achar? muita saudade de ti, cara e obrigado, sigo-te também!


    e a exegese continua rolando solta, vamos lá!

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  8. A cada dia que leios seus posts me sinto inspirada e me torno cada vez mais uma grande fã!
    Parabéns!

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  9. Adorei da amibiguidade q deu no texto essa frase: "Se vista" num conto de fadas!Para mim foi o ápice do texto.

    Priscilla Macêdo.

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