quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Televisão (um delírio sem a menor graça)








Tagarela feito ela só, minha Televisão calou-me com uns três argumentos sobre minha dificuldade em organizar as idéias.

Eu, sem metodologia alguma para uma contraposição, senti-me acuado à quina da sala de estar.

"Você não está ouvindo direito?", "Seu nariz está feio!", "Assista ao nosso programa", e tantas outras bobagens, que saíam em forma de projéteis, atingiam meu peito em cheio. Com os pensamentos em frangalhos, pluguei-me a escudos utriculares; mas estes - os supostos à minha proteção - nunca me deram ouvidos, consumiram, sim, os velhos capilares que vibravam sonidos; consumido fui, até a exaustão e surdez, por refrãos que nem eu entendia, apenas repetia com uma ância exaustiva de... De quê mesmo?

Repeti; e repeti como um louco, as ordens de não parar de dançar, de tirar o pé do chão. Repetido, cansei de entender; bebi, pois, para não lembrar, não quis lembrar.

E, ao procurar abrigo na ebriedade estática de palavras grafadas há séculos, ainda encontro resistência - talvez seja o homem do tempo me lembrando a chuva de amanhã que nunca virá.

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